Seca acaba com colheitas nos Bálcãs

Belgrado, Sérvia, 31/08/2012 – Depois de dois meses de espera, os moradores da cidade sérvia de Valjevo seguiram os conselhos de seu bispo e foram à igreja ortodoxa rezar para que chovesse. "Não fui por ser crente, mas porque não sei o que mais pode ajudar", disse Milan Stankovic, de 55 anos, que participou da missa no domingo, dia 26. "Perdi metade das minhas framboesas e também do milho", lamentou. Por fim, na noite de domingo para segunda-feira choveu em toda a região dos Bálcãs, aliviando um pouco centenas de milhares de agricultores que passaram o verão olhando para o céu e suportando quatro ondas de calor desde 1º de junho.

"Nos Bálcãs os agricultores contabilizam o prejuízo", disse à IPS o analista Misa Brkic. "Mas as nações da região devem reconhecer que não fizeram quase nada a respeito de uma estratégia agrícola. Os governos colocam a agricultura entre suas principais prioridades, mas somente nas palavras", apontou. A Câmara de Comércio da Sérvia estimou os prejuízos pela seca em US$ 2,1 bilhões. "Metade da produção vegetal do país ficou destruída pela seca este ano", afirmou o especialista Vojislav Stankovic. Isso inclui milho, soja, trigo, frutas e verduras.

Stankovic disse que a Sérvia, maior produtora agrícola da região, precisa investir US$ 2 bilhões em sistemas de irrigação, que atualmente cobrem apenas 200 mil hectares, ou 4% das terras cultiváveis. A cobertura precisa ser ampliada para dois milhões de hectares, ressaltou. A agricultura é o setor de exportação mais rentável, e sua renda líquida chegou a US$ 2 bilhões em 2011. "Foi substancial para o orçamento nacional, mas este não será parecido", advertiu Brkic.

"As colheitas perdidas não significam apenas que temos de ser cuidados com o uso da produção agrícola", pontuou Zarko Galetin, diretor da Product Exchange, à IPS. "As perdas se traduzem em menor produção de carne, ovos, leite, etc., e na alta do preço dos alimentos", ressaltou. Os consumidores da Sérvia já sentem o impacto da situação, com duas altas no preço da carne de aproximadamente 5% nas duas últimas semanas. "Nossos poços têm menos água", contou Mirjana Kiric, de 35 anos, vendedora de Kalenic, o maior mercado ao ar livre de Belgrado. "Utilizamos velhas bombas e quase podemos ouvir a terra sorver a água", observou.

Na vizinha Bósnia-Herzegovina, que inclui a federação croata-muçulmana do mesmo nome e a República de Srpska, não há nem um ministério de agricultura comum. A temperatura do solo no sul chegou a 47 graus, e o governo estimou as perdas das colheitas em US$ 1 bilhão. A agricultura concentra 20% do emprego nesse país, onde o desemprego chega a 48%. "A situação não era tão ruim desde o final da guerra" (1992-1995), disse Jovan Jankovic, de 65 anos, à IPS, por telefone, de Ljubovija. "Aqui o milho será tão raro quanto o ouro", afirmou.

O Banco Mundial, que em maio aprovou empréstimo de US$ 40 milhões para melhorar o sistema de irrigação na Bósnia, disse na época que os países dos Bálcãs tinham "um enorme potencial agrícola, mas careciam de infraestrutura e de estratégia". "A ex-Iugoslávia soube ter um dos sistemas de irrigação e canalização mais avançados do mundo", recordou Holger Kray, encarregado de desenvolvimento agrícola e rural do Banco Mundial para Europa e Ásia central. "Infelizmente, se degradaram e sofreram erosão", disse à imprensa local.

Na Croácia, menos de 1% das terras cultiváveis, cerca de 16 mil hectares, estão irrigadas. O ministro da Agricultura, Radimir Cacic, reconheceu este mês à imprensa local que o enfoque do país em matéria agrícola é como o das "tribos primitivas. Se há chuva, há colheita e eletricidade. Se há seca, não há nada. Isto precisa mudar", declarou à rádio e televisão croata HRT.

No momento pouco se faz nesse sentido. A única luz de esperança para a Croácia são os fundos da União Europeia que estarão disponíveis uma vez que se converta no membro número 28 do bloco, em julho de 2013. A seca teve um severo impacto sobre a produção energética. Foi preciso reduzir a geração das centrais hidrelétricas devido ao baixo nível de água. Na Sérvia, a produção elétrica caiu 20%. O baixo nível dos rios forçou à redução da navegação internacional pelos rios Danúbio e Sava.

Os incêndios derivados da seca destruíram grandes extensões de florestas e pastagens na Bósnia e na costa croata do Mar Adriático, bem com em Montenegro e Sérvia. Alguns dos incêndios na fronteira entre Sérvia e Kosovo ainda não foram controlados porque as minas antipessoais colocadas durante a guerra na outrora província sérvia tornam a área inacessível. "Agradecemos a quem quer que seja pela chuva", declarou Milan Stankovic à IPS. "Porém, caiu tarde demais e foi pouca, assim não foi de muito consolo", acrescentou. Envolverde/IPS

Vesna Peric Zimonjic

Vesna Peric Zimonjic is a freelance journalist working from the Balkan region with more than three decades of experience. She has contributed to IPS since the disintegration of the former Yugoslavia in 1991. Vesna also conducts political analyses of the region and contributes to the London-based daily The Independent, BBC World Service and German Deutsche Welle radio and television.

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