Estudantes na luta contra a desnutrição

Tel Aviv, Israel, 15/05/2013 – No Colegio Gymnasia Herzliya, nesta cidade israelense, 20 estudantes da nona e décima séries desenvolvem formas simples, baratas e rápidas de resolver o problema da desnutrição.

Estudantes na luta contra a desnutrição

Uma estudante supervisiona as garrafas onde é cultivada a milagrosa alga. - Pierre Klochendler/IPS

Sob orientação do diretor da escola e do professor de biologia, estes adolescentes cultivam a alga azul esverdeada espirulina, que contém uma ampla gama de vitaminas, minerais e nutrientes. Miri Wolozhinski, de 14 anos, disse que sua participação na experiência responde a um desejo de ajudar "aqueles que necessitam". Ela e sua companheira de classe Anouk Savir-Carmon denunciaram "o absurdo que é ainda existirem crianças famintas no século 21".

Segundo um informe da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em outubro do ano passado, cerca de 870 milhões de pessoas, ou uma em cada oito no planeta, sofreram desnutrição crônica entre 2010 e 2012. Os estudantes do Gymnasia Herzliya estão convencidos de que podem ajudar a mudar esta situação. Após terem estudado várias das propriedades da alga, Savir-Carmon explicou à IPS que "entre 60% e 70% de sua massa é proteína. O restante contém carboidrato, antioxidantes, incluindo gorduras ômega-3, vitaminas, minerais. Resumindo, tudo o que é necessário para a nutrição".

Um estudo de 2008 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), baseado em um experimento realizado no México, conclui que o consumo diário de dez gramas de espirulina em pó é suficiente para combater a desnutrição infantil. O estudo destaca que as crianças severamente desnutridas, admitidas em uma clínica de saúde de uma aldeia do Togo, se recuperaram poucas semanas após ingerirem doses diárias de dez a 16 gramas desse suplemento alimentar, misturado com milho, água e especiarias.

Estima-se que esta alga, conhecida na comunidade científica como cianofícea, existe em água salgada e em alguns lagos de água doce há mais de três bilhões de anos. É considerada uma "proteína completa", pois contém os nove aminoácidos essenciais para a sobrevivência dos seres humanos. A espirulina, popularmente chamada de "supercomida", faz sombra a todos os demais alimentos, como feijões, frutas, verduras e produtos lácteos.

A alga cresce naturalmente em lagos tropicais da África central e oriental, mas como suplemento nutricional é vendida na forma de pó e comprimidos em negócios específicos e a preço alto. Convencidos de que esses custos são consequência de métodos inadequados de cultivo, que exigem equipamentos caros, os estudantes do Gymnasia Herzliya estão decididos a encontrar formas mais baratas de cultivá-la.

Começaram cultivando uma amostra obtida da fazenda de algas Adamá, no deserto do Neguev, com químicos como bicarbonato de sódio, nitrato de potássio, cloreto de sódio, fosfato e sulfato de magnésio. Tudo isto permitiu "um cultivo ótimo", explicou Fea Hadar, da nona série.

Usando a internet como aliada, os estudantes aprenderam tudo o que puderam sobre taxonomia, estrutura, benefícios nutricionais e condições de crescimento da alga. No começo, cada aluno cuidava de uma garrafa de plástico reciclada contendo uma mostra de cultivo. Como qualquer outra planta, a espirulina precisa de gás carbônico para a fotossíntese, e eles tinham apenas que "sacudir a solução a cada duas horas", explicou Savir-Carmon.

Há quatro meses o especialista em algas Boris Zlotnikov, que os assessora, desenhou um sistema mais eficiente, organizando as garrafas em uma plataforma de madeira e ligando-as a um sistema elétrico de bombas, tubulações e finos tubos, que sopra ar na solução e movimenta as algas constantemente. "Agora crescem bem rápido", destacou Elad Dvash, da décima série.

Na semana passada, quando a solução adquiriu uma densa cor esmeralda, os estudantes comemoraram sua primeira colheita, secando a biomassa ao ar livre. "Com 650 litros de algas cultivadas produzimos o equivalente a 65 quilos de matéria seca", explicou Dvash. Os estudantes também guardaram algumas algas para cultivá-las com métodos mais tradicionais, sem usar eletricidade.

"Agora estamos elaborando um protocolo para o cultivo da espirulina em tanques e garrafas, em diferentes condições climáticas e econômicas, com ou sem eletricidade, instrumentos ou recursos", detalhou à IPS Ori Shemor, de 15 anos. "Ainda temos que realizar vários experimentos que levem em consideração luz, temperatura e variações da umidade", ressaltou.

O projeto já está tendo repercussão. Pesquisadores do Centro de Biotecnologia em Algas da Universidade Bar-Ilan se ofereceram para ajudar os estudantes a criarem um modelo que aumente a concentração de proteínas da alga. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) ofereceu ajuda aos jovens para divulgar seu protocolo por meio de seu Projeto de Escolas Associadas, uma rede mundial que conecta quase dez mil instituições de ensino em mais de 180 países. Envolverde/IPS

Pierre Klochendler

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *