Esperança para adolescentes com HIV em Gana

chica 464x472 Esperança para adolescentes com HIV em Gana

O ativista Sulemana Sulley vive positivamente e ensina outros a agirem assim. Foto: Albert Oppong-Ansah/IPS

Tamale, Gana, 24/2/2014 – Com lágrimas na face, a jovem Zainab Salifu fazia fila na unidade de atenção de febres no Hospital Universitário de Tamale, norte de Gana. Antes, recebera um diagnóstico positivo para HIV. Apesar dos cordiais conselhos recebidos da enfermeira Felicity Bampo, Salifu, de 18 anos, sentia que seu mundo desmoronava.

Como ela contou à IPS, ao receber a notícia começou a chorar desesperadamente e se atirou ao chão. As pessoas a olhavam horrorizadas. Logo aproximou-se um homem de meia idade, a pegou pela mão e a levou para um lugar tranquilo.

Este homem, Sulemana Sulley, lhe deu esperanças. Ele contou que contraíra o HIV, vírus causador da aids, há dez anos, quando manteve uma relação fora do casamento. Sem saber, também contagiou sua mulher. Mas o casal permaneceu unido. Ambos recebem tratamento antirretrovial e seus filhos estão livres do HIV.

“Não é hora de chorar”, disse Sulley à jovem Salifu. “Aceite sua condição. O HIV não é uma condenação à morte. Concentre-se em tomar seus antirretrovirais, coma bem e faça exercício. Não está sozinha, qualquer um pode infectar-se com o vírus. Olhe para mim”, acrescentou.

Sulley trabalha para a Model of Hope (Exemplo de Esperança), um grupo de voluntários criado pelos Serviços Católicos de Ajuda. Em Tamale, seus 19 membros se capacitaram como conselheiros comunitários pela Comissão Ganesa de Luta Contra a Aids. Com população de 540 mil habitantes, a movimentada Tamale, que fica 600 quilômetros ao norte da capital, Acra, é a quarta maior cidade do país e importante eixo urbano no norte.

Todas terças e sextas-feiras, dias designados no Hospital Universitário de Tamale para exames de HIV e entrega de antirretrovirais, voluntários colaboram na realização de diagnóstico e ajudando os pacientes que recebem tratamento. A enfermeira Bampo faz os exames e aconselha seis entre dez jovens por dia, a maioria enviada por seus médicos. Poucos chegam por decisão própria, contou à IPS. “Os testes voluntários não são populares entre os jovens por serem estigmatizados”, ressaltou.

Entre os jovens sexualmente ativos de 15 a 24 anos, apenas quatro em cada dez mulheres e somente dois em cada dez homens fazem testes de HIV, segundo a Pesquisa Agrupada de Indicadores Múltiplos de Gana (MICS), de 2011. “A maioria das pessoas tem consciência do HIV e de alguns de seus sintomas, mas poucos sabem que os antirretrovirais fortalecerão seu sistema imunológico para que possam viver mais”, pontuou Bampo.

Gana tem uma prevalência do HIV relativamente baixa, de 1,4%. Em 2001, era de 2,3%. Mas esta baixa prevalência tem seus próprios problemas: falta de familiaridade para lidar com a doença, altos níveis de estigma e pouca tolerância. Apenas 6% das mulheres e 15% dos homens de 15 anos em diante aceitam se vincular com pessoas HIV positivas, segundo a MICS.

Salifu, que está no último ano de uma escola de formação profissional, disse à IPS que contraiu o vírus de seu primeiro e único noivo, com quem rompeu a relação. Mas ainda não conseguiu informar a ele ou à sua família sobre o diagnóstico que recebeu em dezembro de 2013. Com ela, sete em cada dez mulheres ocultam de suas famílias que estão infectadas por HIV.

Sulley atribui essa situação à propagada e errônea ideia de que o HIV traz a morte de forma imediata, e que a socialização com pessoas infectadas pode transmitir o vírus. Em 2013, Sulley aconselhou 200 jovens, na maioria estudantes. Muitos tinham pensamentos suicidas, e ele e seus colegas tiveram que trabalhar duro para ensiná-los a viverem felizes e positivamente. O ativista disse à IPS que muitos adolescentes se suicidaram nos últimos anos após saberem que eram HIV positivos.

Nuhu Musah, coordenador da Unidade de Apoio para o HIV e a Aids na Região Norte de Gana, lamenta a campanha Conheça sua Condição, voltada aos jovens, ser cancelada por falta de equipamentos para fazer testes da doença. “Paralisamos todos os testes gratuitos porque os equipamentos foram destinados às mulheres grávidas”, apontou à IPS. A campanha incluía programas mensais de assistência em comunidades e aproveitava festividades nacionais, como o Dia da Independência, para incentivar a realização de testes de HIV.

Segundo Musah, no norte há quatro centros que ofereciam exames e atenção em saúde sexual para adolescentes, mas carecem de recursos e não estão funcionando. Isso não ajuda a melhorar os índices de HIV juvenil em todo o país. Apenas quatro em cada dez homens e mulheres de 15 a 24 anos mostram completo conhecimento sobre a doença, segundo a MICS. Na Região Norte foi constatada a menor proporção de pessoas com esse grau de conhecimento da aids, com 17%, contra 47% na região da Grande Acra.

Informação da MICS mostra que Gana está se distanciado de seu objetivo de conseguir que 95% dos jovens entre 15 e 25 anos estejam completamente informados sobre HIV até 2015. “O conhecimento sobre a prevenção e transmissão do vírus ainda é baixo, apesar de muitos anos de sensibilização pública”, conclui o estudo.

Dados sobre HIV em Gana

• 240 mil pessoas com HIV.

• 7.100 novas infecções em 2012.

• 850 crianças contraíram o HIV em 2012.

• Sete em cada dez crianças que necessitam não recebem tratamento contra o HIV.

• 76% de redução de novas infecções infantis entre 2009 e 2012.

• 8% das mortes maternas se devem ao HIV.

* Fonte: Informe Mundial 2013 da Onusida.

Envolverde/IPS

Albert Oppong-Ansah

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