O norte do Paquistão vai à escola para desafiar o Talibã

 

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Escola em uma barraca de campanha no norte do Paquistão. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 9/4/2014 – Desafiando as ameaças do movimento islâmico Talibã, uma nova onda de estudantes chega às escolas do conflituoso norte paquistanês. “Há um firme aumento de matrículas, pois os pais se deram conta do quanto a educação é importante, e agora querem impedir a tentativa do Talibã de privá-los dela”, disse à IPS Pervez Jan, funcionário de educação das Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata).

Em 2012, acrescentou Jan, a taxa de alfabetização das meninas nas Fata era de 3%, e cresceu para 10,5% no ano seguinte. Entre os meninos passou de 29,5% para 36,6%. O Talibã se opõe à educação moderna. Seus combatentes destruíram cerca de 500 escolas, 300 delas para meninas e adolescentes. O funcionário acredita que a população tribal da área está enfrentando o Talibã. “A maioria das pessoas sabe que os talibãs atuam contra as pessoas, por exemplo, atacando escolas, e por isso vêm em massa”, explicou.

Muhammad Darwaish, comerciante da Agência Jyber, concorda com Jan. “Matriculei minhas duas filhas e meu filho porque agora estou convencido de que a educação vai beneficiá-los. Tudo o que se oponha ao Talibã favorece as pessoas”, ressaltou. Saeeda Bibi, uma de suas filhas, frequenta o colégio. “Vou todos os dias e sou feliz na escola. Antes costumava passar o dia todo na rua”, contou. Darwaish assegurou que fará tudo o que puder para manter seus filhos na escola. “Sou pobre, mas farei todos os esforços para que meus filhos recebam educação”, afirmou.

A Agência Jyber, uma das sete que formam as Fata, foi cenário dos piores atos de violência do Talibã. Desde 2005, o movimento cometeu atentados com bomba contra 85 escolas, deixando cerca de 50 mil alunos sem aula nesta região fronteiriça com o Afeganistão. No entanto, a taxa de matrícula escolar na Agência cresceu 16,1% no ano passado, em relação a 2012.

Como Darwaish, centenas de pais das Fata agora levam a educação de seus filhos mais a sério. Abdul Jameel, da Agência Kurram, leva seus dois filhos ao colégio. “Os militantes islâmicos explodiram três escolas em nossa área, por isso meus filhos estavam em casa. Agora voltaram porque os colégios foram reconstruídos”, explicou.

O diretor de Educação das Fata, Ikram Ahmed, informou que houve aumento de 21,3% nas matrículas de meninas e meninos na Agência Kurram, de 7,5% no Waziristão do Sul, 4,3% no Waziristão do Norte e 5,1% na Agência Orakzai. No total, foram matriculadas 124.424 meninas em 1.551 escolas primárias e 19.614 em 158 escolas médias, enquanto 13.873 adolescentes se matricularem em 42 colégios secundários e 1.134 em cinco escolas superiores das Fata, acrescentou à IPS.

“Nos últimos anos as ações dos combatentes e a nula vigência do Estado de direito nas áreas tribais afetaram severamente a educação das meninas, mas as medidas do governo deram frutos”, ressaltou Ahmed. Um orçamento especial de “3,67 bilhões de rúpias (US$ 37 milhões) aliviou o dano causado às escolas durante a guerra contra o terrorismo”, acrescentou. O ensino foi a prioridade do programa de desenvolvimento de 2013, representando 24,64% do orçamento das Fata, de US$ 188 milhões. Este ano serão criadas 38 novas escolas médias, 125 primárias e três abrigos para professoras e professores.

Akram disse que em algumas áreas também o exército destruiu escolas porque nelas se escondiam radicais islâmicos. Os militares “destruíram cerca de dez colégios no Waziristão do Sul, onde viviam os combatentes do Talibã. Todos foram reconstruídos”, destacou. Em “algumas áreas o governo forneceu barracas de campanha para serem usadas como salas de aula e, em outros lugares, dezenas de pessoas ofereceram prédios e instalações privadas para que neles funcionassem escolas”, acrescentou.

Bismillah Jan, um dos 20 legisladores das Fata, afirmou à IPS que o governo dará mais bolsas de estudo e livros grátis para apoiar estudantes pobres. Por sua vez, Iqbal Afridi, do partido político Tehreek Insaf, liderado pelo carismático ex-jogador de críquete Imran Jan, disse que “sofremos muito pela longa insurgência” do Talibã. “Nossos estudantes sofreram, os empresários e agricultores perderam seus trabalhos, e a única forma de progredir é a educação. A boa notícia é que agora as pessoas querem educar seus filhos a todo custo”, enfatizou. Envolverde/IPS

Ashfaq Yusufzai

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