Israel viola normas de guerra em Gaza e Estados Unidos olham para o outro lado

Israel Israel viola normas de guerra em Gaza e Estados Unidos olham para o outro lado

Um palestino recupera pertences de sua casa destruída em um prédio no norte da Faixa de Gaza, dia 7 deste mês. Foto: ONU/Shareef Sarnhan

 

Washington, Estados Unidos, 13/8/2014 – A ONU e as organizações de direitos humanos caracterizaram os ataques israelenses contra objetivos civis durante os enfrentamentos na Faixa de Gaza como violações das leis de guerra. Desde que começaram as hostilidades, em 8 de julho, os bombardeios de Israel mataram 1.300 civis, destruíram mais de dez mil moradias e danificaram outras 30 mil no assediado terreno palestino, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

As Forças de Defesa de Israel (FDI) também mataram 47 refugiados e feriram outros 340 em ataques contra seis escolas que funcionavam como abrigos sob proteção da ONU. Porém, a postura pública do governo norte-americano indicou a Israel que não consideraria esse país responsável por tais violações.

A transcrição das entrevistas coletivas feitas pelo Departamento de Estado diariamente desde o começo da guerra em Gaza demonstra que a administração de Barack Obama se negou a condenar os ataques israelenses contra objetivos civis nas três primeiras semanas do conflito. Washington sabia muito bem que Israel rechaçou nas guerras anteriores, no Líbano e em Gaza, toda distinção entre objetivos militares e civis.

Durante a guerra de 2006 no Líbano, o porta-voz das FDI, Jacob Dalal, disse à agência de notícias Associated Press que a eliminação do Hezbolá como uma instituição terrorista exigia atacar todas suas instituições, incluídas aquelas “de base que reproduzem mais seguidores”.

Na operação Chumbo Derretido, em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, Israel matou 42 civis no bombardeio de uma escola no acampamento de refugiados de Jabaliya. As FDI asseguraram que respondiam a morteiros disparados a partir desse prédio, mas a Agência das Nações Unidas para o Socorro de Refugiados Palestinos (UNRWA), que dirigia a escola, negou essa versão.

Com esses antecedentes, Washington sabia que Israel voltaria a atacar alvos civis em Gaza, a menos que acreditasse que sofreria consequências graves. Mas a postura pública do governo de Obama sugere escassa ou nenhuma preocupação diante da violação israelense das leis da guerra.

Na entrevista coletiva do dia 10 de julho, foi perguntado ao porta-voz do Departamento de Estado, Jan Psaki, se os Estados Unidos buscavam deter o bombardeio israelense em Gaza, bem como o lançamento de foguetes por parte do movimento islâmico palestino Hamas. “Há uma diferença entre Hamas, uma organização terrorista que ataca sem discriminar civis inocentes em Israel, e o direito de Israel responder e proteger seus próprios civis”, respondeu.

Quando projéteis israelenses mataram quatro crianças que brincavam em uma praia na presença de jornalistas, no dia 16 de julho, foi perguntado a Psaki se Washington acreditava que Israel violava as leis internacionais da guerra. Sua resposta foi que não estava a par de uma discussão sobre o tema. “Israel deve tomar todas as medidas possíveis para cumprir as normas de proteção dos civis”, acrescentou.

Em 17 de julho, Israel bombardeou o Hospital Geriátrico e de Reabilitação Al Wafa, em resposta ao lançamento de foguetes a cem metros desse prédio, afirmou Psaki. “Exortamos todas as partes a respeitarem o caráter civil das escolas e instalações médicas”, declarou na oportunidade. Em 16 de julho, as FDI lançaram panfletos pedindo à população de Gaza que evacuasse os bairros de Zeitoun e Shujaiyyeh, advertindo sobre os bombardeios posteriores de 20 e 21 de julho, como reação a foguetes supostamente disparados de Shujaiyyeh.

No dia 20 de julho, um microfone aberto captou quando o secretário de Estado, John Kerry, comentou com um assistente que a ofensiva israelense era “um pequeno inferno de operação milimétrica”, revelando o ponto de vista particular da administração. Mas depois Kerry disse em entrevista à rede norte-americana CNN que Israel estava “sob assédio de uma organização terrorista”, o que implica o direito de fazer o que julgar necessário.

Em 21 de julho, a porta-voz-adjunta do Departamento de Estado, Marie Harf, afirmou que Kerry “animou” os israelenses a “adotarem medidas para evitar vítimas civis”, mas sem especificá-las. Em 23 de julho, Israel bombardeou o hospital Al Wafa porque, segundo as FDI, foi usado como um “centro de comando e local de lançamento de foguetes”. Mas Joe Catron, um norte-americano que estava no hospital como parte de um “escudo humano” internacional para evitar os ataques, negou essa versão e garantiu que ouviu o lançamento de um foguete próximo.

Nesse mesmo dia, três mísseis que caíram em um parque junto ao hospital Al Shifa mataram dez pessoas e feriram 46. Israel atribuiu as explosões a foguetes do Hamas que caíram fora do alvo, mas a explicação tem pouca credibilidade. Nos dias 23 e 24, tanques de Israel dispararam contra refugiados palestinos em duas escolas designadas como abrigo da UNRWA, apesar de funcionários da ONU terem se comunicado várias vezes com as FDI para impedir o ataque.

No dia 24, morreram 15 civis e 200 ficaram feridos após o ataque a um abrigo da ONU na escola primária Beit Hanoun. Novamente, Israel atribuiu a responsabilidade a um foguete do Hamas que errou o alvo. Nesse dia, Harf lamentou o ataque e o “crescente número de mortos em Gaza”, acrescentando que uma instalação da UNRWA “não é um alvo legítimo. Israel poderia fazer um pouco mais para mostrar sua moderação”, afirmou.

Mas, quando um jornalista lhe perguntou se o governo de Obama estava “disposto a tomar algum tipo de ação” caso Tel Aviv não acatasse seus conselhos, Harf disse que a meta de Washington era “o cessar-fogo”, ou seja, que os Estados Unidos não estavam preparados para impor consequências a Israel por suas táticas militares em Gaza.

No dia 25 de julho, um jornalista observou que os taques contra o hospital e as escolas foram feitos apesar de informes confirmando que não havia combatentes nem foguetes neles. Entretanto, Harf reiterou a postura israelense de que o Hamas utilizara instalações da ONU para “esconder foguetes”.

Em 30 de julho, as forças israelenses mataram dez refugiados e feriram mais de cem em um ataque contra uma escola da UNRWA no acampamento de Jabaliyia. As FDI reconheceram o fato e alegaram ter recebido disparos de morteiro a partir dali. Isso foi muito para o governo de Obama. O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, qualificou o ataque de “totalmente inaceitável e totalmente indefensável”, e disse que o responsável era Israel.

Porém, mesmo nessa ocasião Washington se limitou a reiterar o pedido para que Israel “fizesse mais para cumprir os altos padrões que fixara a si mesmo”, segundo Earnest.  No dia 3 deste mês, Israel atacou a Escola Pública para Homens de Rafah, matando 12 refugiados e ferindo 27. As FDI informaram que buscavam três “terroristas” em uma motocicleta que passou junto à escola.

“A suspeita de que homens armados operavam nas proximidades não justifica os ataques que colocam em risco a vida de tantos civis inocentes”, disse Psaki na ocasião. Mas essa crítica limitada chegou muito tarde. Israel já havia cometido o que parecem ser violações em massa das leis da guerra. Envolverde/IPS

Gareth Porter

Gareth Porter is an independent investigative journalist and historian who specialises in U.S. national security policy. He writes regularly for IPS and has also published investigative articles on Salon.com, the Nation, the American Prospect, Truthout and The Raw Story. His blogs have been published on Huffington Post, Firedoglake, Counterpunch and many other websites. Porter was Saigon bureau chief of Dispatch News Service International in 1971 and later reported on trips to Southeast Asia for The Guardian, Asian Wall Street Journal and Pacific News Service. He is the author of four books on the Vietnam War and the political system of Vietnam. Historian Andrew Bacevich called his latest book, ‘Perils of Dominance: Imbalance of Power and the Road to War’, published by University of California Press in 2005, "without a doubt, the most important contribution to the history of U.S. national security policy to appear in the past decade." He has taught Southeast Asian politics and international studies at American University, City College of New York and the Johns Hopkins School of Advanced International Studies.

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