Cessam os fortes combates no Sudão do Sul

Uma patrulha da missão de manutenção da paz da ONU percorre a aleia de Yuai, no Sudão do Sul, no começo de 2016. Foto: Jared Ferrie/IPS

Uma patrulha da missão de manutenção da paz da ONU percorre a aleia de Yuai, no Sudão do Sul, no começo de 2016. Foto: Jared Ferrie/IPS

Por Aruna Dutt e Lyndal Rowlands, da IPS – 

Nações Unidas, 18/7/2016 – A situação em Juba, capital do Sudão do Sul na quinta-feira dia 14 era “tensa”, mas “calma”, após os intensos combates vividos na semana passada nesse país, informou o porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU), Stephane Dujarric. “A relativa calma abriu uma janela de oportunidades para que as organizações humanitárias respondessem e visitassem todas as áreas onde havia registro de pessoas deslocadas”, informou Dujarric nesse dia.

“As organizações humanitárias respondem às necessidades mais cruciais, como distribuir bolachas de alto conteúdo energético, complementos nutricionais e artigos de higiene, criar sistemas de reunificação e acompanhamento familiar, repor medicamentos vitais e distribuir suprimentos básicos leves para as pessoas mais vulneráveis”, acrescentou o porta-voz da ONU.

O cessar-fogo anunciado no dia 12 deste mês, que até o final de semana se mantinha, permitiu acabar com cinco dias de intensos combates entre as forças leais ao presidente Salva Kiir e as do vice-presidente, Riek Machar.

A difícil situação do país se deve principalmente ao conflito armado entre o governo e as forças opositoras, que começou em dezembro de 2013 e que já deixou milhares de mortos. Esse país da África oriental, que ficou independente em 9 de julho de 2011, também está à beira do colapso econômico, alertou a organização humanitária Oxfam no dia 5 deste mês.

O atual episódio de violência obrigou novamente milhares de cidadãos do Sudão do Sul a deixarem suas casas e causou mais mortes de civis. A missão da ONU no país protege cerca de 33 mil pessoas deslocadas em Juba, a maioria delas abrigada em instalações civis e das Nações Unidas.

Talvez seja impossível saber quantas pessoas morreram em combate, afirmou a responsável pela Missão de Assistência das Nações Unidas na República do Sudão do Sul (Unmiss), a dinamarquesa Ellen Margrethe Løj, em teleconferência para a imprensa na semana passada. O próprio pessoal da ONU e de organizações não governamentais também foi alvo de ataques, em uma clara violação do direito internacional. O fórum mundial pediu uma investigação dos fatos.

Løj também denunciou o saque de instalações da ONU com suprimentos humanitários durante os combates, quando seu pessoal foi obrigado a se proteger por segurança. A maternidade do hospital da organização internacional Medical Corps no Centro de Proteção de civis (PoC), em Juba, foi bombardeada no dia 12. Já o pessoal da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) informou ter ouvido relatos terríveis de pacientes que atenderam quando a violência cessou.

“As histórias que estamos ouvindo são terríveis, inclusive relatos de coisas que acontecem agora, desde que cessaram os combates”, destacou Ruben Pottier, coordenador de campo da MSF. “Conheci um menino de oito anos cujos pais foram assassinados e agora não tem quem cuide dele”, disse Pottier. “Vi chegar uma menina de 12 anos com sua irmão de três os braços para uma consulta dizendo que havia perdido os pais. Meus colegas na clínica móvel atenderam pelo menos outros três meninos que chegaram sozinhos porque seus pais foram mortos”, acrescentou.

Diante da crueza dos combates, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) pediu aos países vizinhos que abrissem suas fronteiras para ajudar os cidadãos do Sudão do Sul que fugiram da violência. Mas a Anistia Internacional informou que as forças de segurança nacional podem ter impedido a saída das pessoas do país. “As forças de segurança sul-sudanesas impedem propositalmente que as pessoas saíam do país, em clara violação do direito à liberdade de deslocamento”, diz o comunicado da Anistia.

Milhares de sul-sudaneses haviam se concentrado na fronteira sul do país tentando entrar em Uganda, mas foram impedidos, informou a organização. “A conduta arbitrária das forças de segurança do Sudão do sul é totalmente inaceitável. O país deve respeitar o direito à liberdade de movimento das pessoas, inclusive o de abandonar seu próprio país”, afirmou Elizabeth Deng, pesquisadora local da Anistia. “É absolutamente crucial que as partes em conflito não obstruam a circulação de civis que buscam refúgio tanto dentro como fora do país”, acrescentou.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu ao Conselho de Segurança um embargo de armas para o Sudão do Sul, mas até a sexta-feira seus 15 integrantes não haviam chegado a um acordo a respeito. Envolverde/IPS

Lyndal Rowlands

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