Banco Africano de Desenvolvimento planeja um continente autossuficiente, integrado e industrializado

JOANESBURGO, África do Sul / BULAWAYO, Zimbábue, 16 de setembro de 2019 (IPS) – Arama Sire Camara, uma vendedora de frutas e legumes da província de Kindia, a cerca de 135 quilômetros de Conakry, capital da Guiné, sente-se mais segura durante a noite graças ao Projeto de Eletrificação Rural, financiado por um investimento de US$ 21 milhões do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). “A iluminação na estrada à noite e nos nossos produtos significa que estamos mais seguros, especialmente com todos os carros na estrada. Podemos trabalhar por mais tempo após o anoitecer, e assim produzir mais”, contou.

Shuaibu Yusuf, um agricultor da Nigéria, agora pode pagar não apenas pelos alimentos para sua família, graças aos seus altos rendimentos resultantes do fertilizante de alta qualidade que ele é capaz de obter por meio do programa Feed Africa do BAD, mas também pode pagar os gastos com a educação dos filhos e as contas médicas de sua família.

Na província de Limpopo, na África do Sul, Sarina Malatji, agora com 39 anos e mãe de três filhos, cresceu em uma área onde o acesso à educação era limitado. Mas – graças ao investimento do BAD na Iniciativa de Liderança Medupi e na Academia de Empreiteiros da concessionária estatal Eskom – sua vida agora está muito longe daquela de sua infância. Atualmente, ela é dona de seu próprio negócio de limpeza, o Green Dot, que emprega 115 pessoas na usina de Medupi, um dos maiores projetos de energia do país. Ela diz que as habilidades que aprendeu com a iniciativa de liderança ajudaram-na a expandir seus negócios.

Essas são as histórias de apenas algumas pessoas que foram beneficiárias de investimentos realizados pelo BAD em todo o continente. Entre eles, o apoio à construção de uma linha de transmissão de energia de 563 quilômetros em Moçambique, como parte de um compromisso de ajudar na recuperação após a passagem do ciclone Idai por meio da restauração de meios de subsistência e infraestrutura; um acordo com a Somália de doação de US$ 28,8 milhões para projetos de estradas e água; a assinatura com a União Africana de uma doação de US$ 4,8 milhões para um secretariado continental de livre comércio; e o compromisso de reunir seus recursos com outras partes interessadas para combater a insegurança alimentar no continente.

O BAD registrou uma pegada enorme em termos de desenvolvimento. No ano passado, seu programa Global Benchmark lançou com sucesso duas grandes emissões de benchmark global no mercado de dólares de US$ 2 bilhões cada e um título de dez anos de 1,25 bilhão de euros. “A África não vai se desenvolver com a ajuda, mas por meio da disciplina dos investimentos”, pontuou o presidente do BAD, Akinwumi Adesina, observando que o banco e os parceiros lançaram o Fórum de Investimento na África em 2018, que levantou US$ 38,7 bilhões em acordos de investimento.

Com o encerramento da 20ª reunião anual das principais instituições financeiras do mundo, na semana passada, na sede do BAD em Abidjan, Costa do Marfim, estão em andamento planos para um novo impulso ao desenvolvimento da África, uma vez que o banco pediu um aumento geral de capital dos acionistas. O BAD está comprometido em ajudar a África a explorar seu potencial de ser um destino competitivo de investimentos globais, de acordo com seu vice-presidente sênior, Charles Boamah, que citou conversas sobre o aumento geral de capital, afirmando que “esse é um ano crucial, um ano em que decisões muito, muito importantes estão sendo tomadas sobre que tipo de banco queremos ter nos próximos 20 anos”.

No início deste ano, o Canadá comprometeu US$ 1,1 bilhão em capital exigível temporário para apoiar o BAD e também instou outros países membros com classificação AAA a se unirem ao Canadá no apoio ao banco. Na ocasião, Adesina recebeu com satisfação o anúncio, dizendo que era um “grande impulso”. Ele indicou que permitiria ao banco “fortalecer sua classificação AAA e aumentar os empréstimos para os países membros enquanto as discussões estão em andamento entre todos os acionistas para um aumento geral de capital”. O Canadá é membro do BAD desde 1983 e é o quarto maior acionista entre seus países membros não regionais.

Adesina estava no Japão no final de agosto para participar da Conferência Internacional de Tóquio sobre Desenvolvimento Africano (Ticad), ocasião em que destacou às empresas japonesas que “a África apresenta um retorno atraente para os investidores”. O BAD está otimista sobre o crescimento econômico da África, que apoia por meio de vários serviços de financiamento disponibilizados a seus 54 países membros regionais.

Em 2018, a África registrou um crescimento real do PIB de 3,5%, informou o BAD em seu relatório anual. Esse é um momento positivo para aproveitar novos investimentos no continente. O banco declarou que 17 países africanos alcançaram um crescimento real do PIB superior a 5% em 2018 e 21 países apresentaram um crescimento entre 3% e 5%. Apenas cinco países africanos registraram recessão em 2018, abaixo dos oito registrados nos dois anos anteriores. Seis das dez economias que mais crescem no mundo são nações africanas: Burkina Faso, Costa do Marfim, Etiópia, Líbia, Ruanda e Senegal.

Segundo o BAD, alguns países não ricos em recursos tiveram altas taxas de crescimento em 2018, incluindo Costa do Marfim (7,4%), Ruanda (7,2%) e Senegal (7%), apoiados pela produção agrícola, a demanda do consumidor e o investimento público. Os fundamentos econômicos na maioria dos países africanos continuaram melhorando, afirmou o banco, atribuindo isso à consolidação fiscal e investimentos maciços em infraestrutura, grandes incursões em inovação financeira, aumento da demanda doméstica e melhorias substanciais no clima de investimentos.

Desenvolvimento da África

Convencido do forte potencial de crescimento econômico da África, o BAD investe em vários setores. Em 2018, aprovou empréstimos no valor de US$ 9,95 bilhões em seus programas High 5s – cinco programas que se concentram em setores essenciais:

    • Light Up and Power Africa – aprovações totais de US$ 1,9 bilhão, 23% a mais do que em 2017, com 447 megawatts em nova capacidade total de energia sendo instalada, sendo 197 megawatts de renováveis. Cerca de 90% dos empréstimos bancários foram focados no investimento em infraestrutura.

    • Feed Africa – foram beneficiadas 19 milhões de pessoas com tecnologias agrícolas aprimoradas e 1.700 toneladas de insumos agrícolas (fertilizantes, sementes, e outros). Quase US$ 1,54 bilhão foram aprovados em 2018 para transformar a agricultura no continente.

    • Industrialise Africa – foram favorecidos 154 mil operadores-proprietários e micro, pequenas e médias empresas com acesso a serviços financeiros. Empréstimos adicionais apoiaram atividades em uma ampla gama de manufaturas e serviços no setor privado.

    • Integrate Africa – cerca de 14 milhões de pessoas obtiveram acesso a melhores serviços de transporte, com investimentos de mais de US$ 1 bilhão, e mais de US$ 20 milhões nos últimos cinco anos em suporte a contratos comerciais e em transporte transfronteiriço e infraestrutura de energia leve.

    • Improve the Quality of Life for the People of Africa – benefícios para 8 milhões de pessoas com melhor acesso a água e saneamento.

“De qualquer forma, esses números e impactos são impressionantes. Mas as necessidades na África são enormes. É por isso que o banco está envolvido em discussões com seus acionistas para que um aumento geral de capital faça muito mais pela África, em direção à Agenda 2063”, destacou Adesina.

Riscos permanecem

Apesar de o PIB da África ter aumentado cerca de 3,5% em 2018, o crescimento econômico do continente está ameaçado por riscos domésticos, como mudanças climáticas, preocupações de segurança e migração, aumento da vulnerabilidade ao endividamento em alguns países e incertezas associadas a eleições e transições políticas, apontou o BAD, recomendando investimentos significativos do setor privado e financiamento externo em infraestrutura e financiamento regionais.

Em média, o déficit fiscal da África caiu de 5,8% em 2017, para cerca de 4,5% em 2018, enquanto a inflação caiu de 12,6% em 2017, para 10,9% em 2018. No entanto, o BAD lamentou que essas taxas de crescimento permanecessem insuficientes para enfrentar os desafios persistentes de alto desemprego, baixa produtividade agrícola, infraestrutura inadequada e déficits fiscais, além de vulnerabilidades da dívida.

Embora as receitas tributárias e a eficiência nos gastos tenham melhorado, a mobilização de recursos domésticos geralmente permanece muito aquém do potencial, pontuou o BAD, observando que 16 países africanos foram classificados como em dificuldades de dívida ou com alto risco de dificuldades de dívida no final de 2018. O banco insistiu no fortalecimento dos vínculos entre dívida e investimento para garantir um alto retorno social dos investimentos públicos financiados por dívida.

“Estou otimista sobre o futuro da África e confiante em nossa capacidade de causar um impacto maior na vida de milhões de pessoas neste amado continente ao qual fomos chamados a servir”, ressaltou Adesina. E acrescentou: “Precisamos de acesso universal à eletricidade. Devemos ajudar a tornar a África autossuficiente em alimentos. Devemos integrar completamente o continente. Devemos industrializar o continente. E devemos melhorar a qualidade de vida do povo da África”.

Nalisha Adams e Busani Bafana

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