Pandemia estabelece os déficits da África, mas os jovens crescerão no futuro

Nteranya Sanginga é diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical.

IBADAN, Nigéria, 29 de abril de 2020 (IPS) – As fragilidades da África foram brutalmente expostas pela pandemia de coronavírus. O vírus atingiu quase todos os países desse continente de 1,3 bilhão de pessoas e a Organização Mundial de Saúde adverte que poderá haver dez milhões de casos em seis meses. Dez países não possuem ventiladores pulmonares.

Os governos estão combatendo a pandemia com sistemas de saúde fracos, nos quais os bloqueios são especialmente punitivos pela ausência de um estado de bem-estar social. Muitas pessoas subsistem com ganhos diários, vivendo da economia informal, em condições de vida densamente povoadas que zombam do “distanciamento social”. O colapso dos preços das commodities nos mercados internacionais e as saídas de capital dos mercados emergentes estão atingindo as economias.

Entretanto, os pontos fortes da África também estão em exibição. Lições valiosas foram aprendidas com epidemias passadas, como o surto de ebola em 2014, e os governos estão respondendo com medidas estritas. Longe da imagem estereotipada de terceiro mundo, que pede ajuda aos países mais ricos, as pessoas estão demonstrando resiliência, generosidade e espírito cívico sem limites.

A população jovem da África também dá esperança. Com uma idade mediana inferior a 20 anos, o continente pode sofrer relativamente menos mortes do que outras nações com populações mais envelhecidas. A pandemia está enfatizando o que muitos advertem há anos: que as economias da África precisam depender menos da exportação de matérias-primas e fazer mais para lidar com as questões urgentes de insegurança alimentar, desemprego jovem e pobreza.

O desenvolvimento da agricultura é fundamental para enfrentar esses desafios. A juventude traz energia e inovação à situação, mas essas qualidades podem ser melhor canalizadas pelos próprios jovens africanos, com a realização de pesquisas baseadas em resultados no agronegócio e no desenvolvimento rural. O envolvimento dos jovens é fundamental.

Como uma organização sem fins lucrativos de pesquisa para o desenvolvimento, o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) trabalha com vários parceiros da África subsaariana para facilitar soluções agrícolas para a fome, a pobreza e a degradação dos recursos naturais. O IITA melhora os meios de subsistência, aumenta a segurança alimentar e nutricional e incrementa o emprego como um dos 15 centros de pesquisa no Conselho de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), uma parceria global para um futuro alimentar seguro.

Durante toda a pandemia, o IITA está ajudando os sistemas alimentares subsaarianos, monitorando os preços dos alimentos e fortalecendo o acesso às tecnologias e mercados agrícolas.

Antes do surgimento do coronavírus, o IITA havia lançado um projeto de três anos conhecido como Melhoria da Capacidade de Aplicação de Evidências de Pesquisa (Care) para construir uma compreensão da redução da pobreza, impacto no emprego e fatores que influenciam o envolvimento dos jovens no agronegócio e nas propriedades rurais e não agrícolas. O projeto foi financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) e forneceu 80 bolsas de pesquisa para jovens acadêmicos africanos, com ênfase em jovens profissionais e estudantes do sexo feminino, com o objetivo de conseguir mestrado ou doutorado.

Os beneficiários recebem treinamento sobre metodologia de pesquisa, gerenciamento de dados, redação científica e produção de evidências de pesquisa para elaboração de políticas. São orientados por cientistas e especialistas do IITA sobre um tópico de pesquisa de sua escolha e produzem artigos científicos e resumos de políticas referentes ao seu trabalho.

Como a África vai alimentar uma população que dobrará em 2050? Como diz o CGIAR, estamos em uma encruzilhada no sistema alimentar mundial e não podemos continuar nossa trajetória atual de consumir muito pouco, muito, ou os tipos errados de alimentos, a um custo insustentável para os recursos naturais, o ambiente e a saúde humana.

Na África subsaariana, a agricultura contribui para quase um quarto do PIB e os pequenos agricultores representam mais de 60% da população. Os jovens estão encontrando carreiras no agronegócio e o IITA busca fortalecer sua capacidade de formular planos de ação futuros para as comunidades locais e até para governos nacionais, o setor empresarial e a comunidade internacional.

Dolapo Adeyanju, beneficiária do IITA, ilustra como a África é capaz de gerar mais engajamento dos jovens na pesquisa, seja sobre políticas, startups, agronegócio, iniciativas de desenvolvimento ou liderança. Nacional da Nigéria, ela é estudante de mestrado na Universidade de Nairóbi, trabalhando em colaboração com a Universidade de Pretória, com foco no impacto de programas agrícolas no empreendedorismo juvenil na Nigéria.

“Os formuladores de políticas não podem operar no vácuo”, afirma Adeyanju, enfatizando a necessidade de políticas apropriadas serem baseadas em evidências relevantes derivadas de resultados e recomendações de pesquisas.

O desenvolvimento de políticas eficazes permitirá que os jovens africanos que já estão aproveitando a pesquisa agrícola façam suas vidas com a agricultura. O projeto Care ajudará a compensar o déficit de pesquisas específicas para jovens, e o apoio do Fida garante que os jovens africanos tenham voz na maneira como podem contribuir para esse esforço.

A África não estava bem prepa

No entanto, à medida que a pandemia avança, a África deve ficar de olho nas necessidades de desenvolvimento no longo prazo. O IITA desempenhará seu papel de equipar a próxima geração para promover a agricultura e alimentar rada para uma crise da magnitude do Covid-19. As universidades foram fechadas, as fronteiras fechadas e o comércio despencou. A pandemia expôs décadas de subinvestimento em setores vitais, além de demonstrar a importância da colaboração científica e educacional. O foco imediato estará naturalmente na resposta direta à doença em termos de pesquisa médica, equipamentos e assistência médica. o povo da África.

Nteranya Sanginga

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