Projeto Care oferece políticas que geram sucesso para jovens no agronegócio

IBADAN, Nigéria, 25 de novembro de 2020 (IPS) – Frequentemente citado como o maior patrimônio da África, seus jovens também estão entre os mais vulneráveis e voláteis. Uma grande e crescente população de jovens talentosos tem o potencial de impulsionar o crescimento econômico e o bem-estar das sociedades em todo o continente, mas, como alerta o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), as atuais condições de desemprego severo estão se traduzindo em condições de vida mais precárias, maiores fluxos de migração, e mais riscos de conflito – em suma, um desastre social em formação.

Projeto Care oferece políticas que geram sucesso para jovens no agronegócio

Victor Manyong

Prevê-se que a população africana de jovens com idades entre 15 e 35 anos, de cerca de 420 milhões, quase duplique até 2050. Embora mais 10 a 12 milhões entrem na força de trabalho a cada ano, apenas pouco mais de 3 milhões de novos empregos estão sendo criados. Atualmente, dois terços dos jovens não estudantes são definidos como desempregados, subempregados, desencorajados ou empregados precários. Além disso, o desemprego permeia diferentes categorias sociais: escolaridade baixa, feminina e masculina, rural e urbana.

A pandemia de Covid-19 também está contribuindo para o aumento do desemprego nos setores mais atingidos, como turismo, hospedagem, varejo, comércio e agricultura, especialmente na África Austral, a região com as maiores taxas de desemprego.

O plano de investimento Empregos para os Jovens na África, do BAD, lançado em 2016, tem como meta para a agricultura – incluindo a produção na fazenda e o processamento fora dela – a criação de 41 milhões de empregos em dez anos. Mesmo levando em consideração que os pequenos agricultores representam mais de 60% da população na África Subsaariana, essa é uma meta ambiciosa, que exige políticas eficazes e abrangentes, em contraste com as medidas fragmentadas do passado.

Embora os jovens geralmente tragam seu entusiasmo, energia e ambição, bem como maior capacidade e conhecimento em sistemas de tecnologia da informação do que a geração mais velha, eles enfrentam enormes obstáculos para iniciar carreira no agronegócio, carentes de recursos de terra, capital, ativos e acesso a oportunidades financeiras. As mulheres jovens costumam ser mais desfavorecidas do que os homens.

Projeto Care oferece políticas que geram sucesso para jovens no agronegócio

Kanayo F. Nwanze

Nos meses que antecederam o surgimento do coronavírus, o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), sem fins lucrativos, lançou um projeto de três anos na África Subsaariana, que tem o objetivo de construir nosso entendimento sobre a redução da pobreza, impacto no emprego e fatores que influenciam o engajamento dos jovens no agronegócio e em economias agrícolas rurais e não agrícolas.

O projeto Melhoria da Capacidade de Aplicação de Evidências de Pesquisa (Care), do IITA, financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), ofereceu 80 bolsas de pesquisa para jovens acadêmicos africanos, com ênfase em profissionais do sexo feminino e estudantes que desejam obter um mestrado ou doutorado. Os beneficiários recebem treinamento em metodologia de pesquisa, gestão de dados, comunicação científica e redação científica, e na produção de evidências de pesquisa para a formulação de políticas em linha com o mandato do IITA, de gerar inovações agrícolas para atender aos desafios mais urgentes da África.

Por meio do Care, vozes jovens e autorizadas estão sendo trazidas para a mesa de formulação de políticas. Sem medo de desafiar suposições, a pesquisa de jovens sobre jovens está destacando caminhos para quebrar o círculo vicioso em que estão presos.

Dadirai P. Mkombe, uma pesquisadora do Malawi, investigou o papel que o investimento direto desempenha no emprego jovem na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), concluindo que são necessárias políticas macroeconômicas para encorajar no longo prazo o crescimento, mesmo alavancado pela dívida externa. O investimento estrangeiro direto é essencial para a criação de empregos, diz ela, enquanto adverte que são necessários mais investimentos verdes do que fusões e aquisições.

Em Benin, Rodrigue Kaki investigou o que motiva o empreendedorismo no agronegócio entre graduados de faculdades e universidades de agricultura. Ao constatar que poucos alunos podem optar pelo trabalho autônomo no agronegócio, ele recomenda programas para iniciá-los precocemente, com ações que incentivem os alunos ao trabalho autônomo, como a criação de clubes de empreendedorismo em agronegócio em faculdades de agricultura e universidades.

Motivação também foi um tema para Cynthia Mkong, que pesquisou estudantes universitários que optaram pela agricultura em Camarões. Entre suas descobertas está a necessidade de uma mudança de mentalidade, começando na escola, onde educadores e mentores devem destacar tendências positivas e oportunidades emergentes no setor. Além disso, construir e implementar políticas eficazes para melhorar os níveis de educação para meninas e a renda familiar em todos os níveis ajudaria a renovar o interesse cada vez menor dos jovens pela agricultura. Suas descobertas indicam que a agricultura crescerá tanto como campo de estudo quanto como ocupação.

Também em Camarões, Djomo Choumbou Raoul Fani concentrou sua pesquisa nas contribuições e na competitividade das jovens agricultoras de grãos e no desemprego e subemprego rural, especialmente entre as mulheres jovens. Entre suas recomendações estão a necessidade de políticas cegas ao gênero e informações positivas em relação ao gênero, para garantir que o investimento público em crédito agrícola, comercialização de alimentos, estradas e escolas seja usado de forma construtiva pelas jovens agricultoras.

Esses poucos exemplos de políticas, entre muitos outros produzidos até agora, ilustram como os pesquisadores, com jovens profissionais do sexo feminino bem representadas, estão prontos para desafiar suposições e estereótipos para mostrar o caminho a seguir. Em um relatório, o Fida (https://www.ifad.org/en/youth) também enfatizou que moldar as economias rurais do amanhã deve envolver os jovens para ter sucesso.

Com a população mais jovem e de crescimento mais rápido do mundo, as comunidades ainda predominantemente rurais da África continuarão a crescer, assim como as cidades. O esforço do IITA para aumentar a percepção do agronegócio permitirá que os jovens vejam nele um futuro. O projeto Care já está produzindo pesquisas baseadas em evidências, necessárias para as comunidades africanas construírem segurança alimentar e resiliência. Os formuladores de políticas não podem operar no vácuo. O envolvimento dos jovens é a chave.

Victor Manyong é economista agrícola, diretor R4D para a África Oriental e líder do grupo de pesquisa em ciências sociais do IITA.

Kanayo F. Nwanze é representante especial do Conselho de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) na Cúpula de Sistemas Alimentares da Organização das Nações Unidas e ex-presidente do Fida.

Kanayo F. Nwanze

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