Removendo barreiras ao papel principal das mulheres na agricultura africana

O artigo de opinião a seguir faz parte de uma série que marcará o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.

IBADAN, Nigéria, 4 de março de 2021 (IPS) – A população da África dobrará até 2050 se as taxas de crescimento continuarem sua trajetória atual, mas a criação de empregos não está acompanhando esse ritmo, com até cinco vezes mais jovens procurando colocação a cada ano. E, além disso, a pandemia de Covid está mergulhando a África em sua primeira recessão em 25 anos.

Mas, mais uma vez, a agricultura está demonstrando sua importância crucial em tempos de crise. Uma pesquisa recente do Banco Mundial, em cinco países africanos, mostrou que mais pessoas estão se voltando para a agricultura por causa dos impactos econômicos da pandemia. “Há evidências de que o setor agrícola está servindo como um amortecedor para famílias de baixa renda na região, semelhante ao papel que desempenhou durante a crise econômica global de 2008”, aponta a investigação.

Na Etiópia, por exemplo, 41% das famílias que receberam renda da agricultura nos últimos 12 meses relataram perda de ganho. Mas 85% das famílias experimentaram perda de renda em negócios familiares não agrícolas e 63% relataram uma redução nas remessas.

Com uma população maior dependendo da agricultura para segurança alimentar e como fonte de sustento, as mulheres e os jovens desempenharão um papel particularmente crítico no desenvolvimento da agricultura na África subsaariana, onde 40% a 60% de todas as mulheres empregadas trabalham na agricultura.

Com a mudança demográfica, é importante examinarmos o papel que as mulheres e os jovens desempenham na garantia da segurança alimentar na África subsaariana e entender como essas dinâmicas estão mudando, além de identificar os velhos e novos desafios enfrentados pelas mulheres.

Um estudo recente apoiado pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), sem fins lucrativos, descobriu que, entre os estudantes universitários do último ano no noroeste da Nigéria, as mulheres jovens têm a mesma probabilidade de expressar a intenção de se envolver na agricultura após a graduação, assim como os homens. O Banco Mundial estima, no entanto, que atualmente as mulheres representam cerca de 37% da produção agrícola na Nigéria. Maiores investimentos na promoção das mulheres na agricultura podem beneficiar significativamente a produtividade.

O Conselho de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), uma parceria global que abrange várias organizações envolvidas na transformação de sistemas alimentares, argumenta que a atenção não deve repousar em estimativas inflacionadas de quantos alimentos as mulheres produzem, mas sim no “reconhecimento de que a remoção de barreiras que limitam o potencial das mulheres poderia ter o duplo benefício de aumentar rendimentos das mulheres agricultoras e oferecer mais alimentos para todos”.

As barreiras para uma maior produção agrícola não podem ser atribuídas a uma única causa. Terri Raney, editora do relatório da The State of Food and Agriculture, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), afirmou: “As mulheres agricultoras normalmente obtêm rendimentos mais baixos do que os homens, não porque sejam menos qualificadas, mas porque operam fazendas menores e usam menos insumos como fertilizantes, sementes melhoradas e ferramentas”.

Um relatório do Banco Mundial, de 2018, detalhou as lacunas de gênero na posse de propriedades na África subsaariana. Um de seus pontos mais importantes foi que as mulheres têm menos probabilidade de possuir terras ou casa do que os homens.

No entanto, mais barreiras estão sendo levantadas ao envolvimento das mulheres na agricultura, pois, sob a pressão de questões de segurança alimentar global, os governos da África subsaariana estão arrendando grandes extensões de terra para países e empresas estrangeiras. A Oxfam, em um relatório sobre grilagem de terras, enfatiza que muitas vezes isso prejudica as mulheres rurais: “Assim que um recurso natural ganha valor comercial no mercado internacional de commodities, o controle e as decisões sobre esse recurso passam rapidamente das mulheres rurais para as mãos dos homens”.

Embora aceite que a África subsaariana precisa de investimentos na agricultura, deve-se prestar atenção em como os trabalhadores rurais, especialmente as mulheres, podem não se beneficiar desses negócios.

O IITA lançou 80 bolsas de pesquisa para jovens acadêmicos africanos, com ênfase específica em profissionais e estudantes do sexo feminino, por meio do projeto Melhoria da Capacidade de Aplicação de Evidências de Pesquisa (Care), financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), que visa ao desenvolvimento de políticas de agronegócio eficazes, que gerem sucesso para os jovens na África subsaariana.

O Fida está cada vez mais concentrando seus recursos nos jovens como uma prioridade, uma vez que a transformação rural bem-sucedida depende de sua inclusão no processo.

Os programas para jovens do IITA – como o IITA Youth Agripreneurs (IYA), o Empowering Novel Agri-Business-Led Employment (ENABLE Youth), o Young Africa Works, e o Start Them Early Program (Step) – estão focados no incentivo à participação e engajamento de crianças em idade escolar e jovens no agronegócio. Investir no futuro da geração mais jovem da África enfatiza a importância de aumentar a ambição dos alunos do ensino fundamental e médio para garantir um continente com segurança alimentar e nutricional. Isso também seria importante para o desenvolvimento de jovens líderes femininas na agricultura, cujas habilidades de liderança adquiridas as capacitarão a ajudar nos esforços de resposta e recuperação da Covid-19.

O IITA e organizações parceiras, como o Banco Africano de Desenvolvimento, a Fundação Mastercard, o Fida e o governo do Estado de Oyo, acreditam que a pobreza, a fome e a desnutrição na África não podem ser abordadas sem levar em consideração as restrições enfrentadas pelas mulheres e jovens agricultores que, na maioria das comunidades, fornecem a maior parte da mão-de-obra da fazenda familiar, bem como do processamento dos alimentos para os mercados e para o consumo familiar. Essas restrições são uma parte central da pesquisa apoiada pelo IITA por meio de seu projeto Care.

Em Camarões, Djomo Choumbou Raoul Fani examinou as contribuições e a competitividade das jovens agricultoras e suas recomendações incluem mudanças nos sistemas de posse da terra, controles de preços e sistemas de crédito. A pesquisa de Oluwaseun Oginni descobriu que 43% dos jovens que migram para áreas urbanas do interior da Nigéria são mulheres, e os principais motivos citados são “a busca por um futuro melhor, oportunidades educacionais e casamento”.

Cynthia Mkong analisou as motivações dos estudantes que escolhem a agricultura como curso universitário em Camarões, onde o desemprego feminino é o dobro do masculino. Mkong recomenda focar em políticas que melhorem a educação das meninas e aumentem a renda familiar em todos os níveis. Essas mudanças provavelmente reverterão o declínio do interesse dos jovens na agricultura.

O projeto Care do IITA está permitindo que as mulheres tragam experiências, perspectivas e habilidades diferentes para a mesa, que podem contribuir para decisões, políticas e leis que funcionam melhor para todos. Seu papel de liderança é agora cada vez mais crítico nos esforços de resposta e recuperação da Covid-19.

Ao marcarmos o Dia Internacional da Mulher em 8 de março, o IITA está empenhado em promover um maior envolvimento das mulheres para que o IITA possa desempenhar um papel mais significativo na pesquisa e no mundo. As mulheres são os líderes e construtores de que precisamos.

O autor é diretor-geral do IITA.

Correspondentes da IPS

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