Afegãos jogam críquete pela paz

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Filhos de refugiados afegãos jogam críquete na periferia de Peshawar, no Paquistão. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 22/1/2014 – O Afeganistão está redescobrindo a alegria do críquete. Este esporte se converteu em ferramenta de progresso, meio de entretenimento e uma forma de afastar os jovens da violência, em um país açoitado por mais de 30 anos de conflito. O Afeganistão participará da Copa da Ásia, que será aberta em fevereiro e da qual também participarão Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka.

O críquete é um esporte de taco e bola, no qual se enfrentam duas equipes de 11 jogadores cada uma. Nasceu na Grã-Bretanha e se popularizou especialmente em suas antigas colônias da Ásia. Com reconhecem muitos jogadores, o críquete nunca teria conseguido seu glorioso regresso ao Afeganistão sem a ajuda do vizinho Paquistão, onde muitos afegãos cresceram vendo e amando esse esporte.

“O Afeganistão, país quebrado pela violência, precisa desesperadamente do críquete como forma de entretenimento”, disse à Muhammad Nabi, capitão do selecionado. “Também oferece uma boa oportunidade para afastar os jovens do Talibã” (movimento islâmico), acrescentou. Segundo Nabi, a maioria dos jogadores afegãos desenvolveram sua paixão pelo críquete no Paquistão. Milhões de afegãos buscaram abrigo em território paquistanês desde que seu país foi invadido pela União Soviética, em 1979. “O críquete é muito popular no Paquistão, e os afegãos também viram o jogo e começaram a praticá-lo ali”, contou.

Hoje, se há algo que nunca deixa de fascinar os afegãos é esse esporte. Desde 2007, o Afeganistão jogou 21 partidas de Twenty20 International, formato de críquete em que cada equipe joga um máximo de 20 overs (série de seis lançamentos da bola).”Agora teremos status de One-Day International (ODI, partida internacional jogada em um só dia com até 50 overs por equipe) e participaremos da Copa Mundial 2015. Isso nos dará a experiência de que tanto precisamos”, argumentou Nabi.

A Associação de Críquete do Afeganistão foi criada em 1995, mas o regime do Talibã proibiu o esporte. “Entretanto, os jovens afegãos continuaram jogando no Paquistão, sobretudo em Peshawar”, explicou Noor Muhammad Murad, chefe executivo da Associação. Isso permitiu ao Afeganistão jogar a Copa Asiática de Twenty20 realizada no Kuwait, em 2007.

Murad recordou que o torneio “terminou empatado e o troféu foi compartilhado por Omã e Afeganistão”, acrescentando que “todos os jogadores afegãos treinaram em Peshawar, onde a maioria também cresceu. Sempre seremos gratos ao governo paquistanês por ter ajudado a desenvolver o críquete no Afeganistão”.

Às vésperas da Copa da Ásia 2014, que será realizada em Bangladesh entre 25 de fevereiro e 8 de março, a equipe afegã se prepara em solo paquistanês. “Pedimos à Associação de Críquete do Paquistão que nos deixasse jogar partidas-treino no Estádio Kaddafi, de Lahore, para nos prepararmos para o torneio”, contou Murad.

O paquistanês Kabir Jan, que se converteu no treinador do selecionado afegão em 2008, trabalha duro para promover esse esporte no Afeganistão. “Criamos 11 escolas de críquete e três estádios no Afeganistão, onde acontecem torneios regionais. O críquete substituiu o futebol como esporte mais popular”, afirmou. “Hoje os afegãos estão loucos pelo críquete, como é evidente pelo número de espectadores nas partidas locais”, disse à IPS. A maioria dos afegãos está ansiosa pela Copa Mundial de 2015.

Por sua vez, o batedor afegão Karim Sadiq disse à IPS que “contamos com o apoio do Paquistão. Já jogamos em nível internacional em Peshawar, Lahore e Karachi, e voltaremos lá para nos prepararmos”. Sadiq contou que começou a jogar em Peshawar, onde passou sua juventude. “É meu segundo lar e gostaria de jogar lá”, enfatizou. Por sua vez, o lançador Samiullah Shinwari, de 26 anos, disse que seu país tem muitos novos talentos que deveriam ser apoiados “com boa infraestrutura”. E afirmou que “o críquete é um excelente jogo para atrair as massas. Podemos usá-lo como uma ferramenta de paz no Afeganistão”.

O ex-jogador paquistanês Rashid Lateef, que dirige uma escola de críquete em Karachi, está ajudando os afegãos a melhorarem sua técnica. “Estamos treinando dois afegãos para que possam jogar profissionalmente”, detalhou à IPS. “Uma vez que comecem a ganhar dinheiro, outros também se interessarão”, acrescentou.

O jogador Aftab Alam, de 22 anos, disse se sentir em dívida com o Paquistão por lhe ter permitido se desenvolver nesse esporte. “Em Peshawar, costumávamos ter partidas com jogadores locais e agora estamos jogando em nível internacional”, afirmou. Como jogador, se considera um embaixador do Afeganistão.

“Estamos certos de que um dia nosso país será palco de partidas internacionais. Haverá centenas de patrocinadores dispostos a promover o críquete internacional” no Afeganistão, afirmou. “Mas o crédito de tudo isso é do Paquistão”, ressaltou Alam. Ele contou que as ruas e as lojas ficam vazias quando o Afeganistão faz um jogo internacional. “Inclusive para as partidas locais, os espectadores chegam em massa, buscando um momento de lazer e entretenimento”, destacou. Envolverde/IPS

Ashfaq Yusufzai

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