Não há volta para manifestantes na Ucrânia

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Kiev em chamas na noite do dia 18. Foto: Natalia Kravchuk/IPS

 

Kiev, Ucrânia, 20/2/2014 – Os choques que deixaram dezenas de mortos e mais de mil feridos na capital da Ucrânia podem continuar por semanas. As pessoas dizem que “não há volta” para as partes envolvidas na pior crise que este país vive desde a dissolução da União Soviética. Os protestos começaram em Kiev no final de novembro de 2013, quando o presidente Viktor Yanukovych priorizou os laços com a Rússia e rejeitou um acordo que teria aproximado a Ucrânia da União Europeia (UE).

As manifestações ficaram violentas em meados de janeiro, após a aprovação de uma série de polêmicas leis destinadas a limitar a ação dos movimentos de oposição pró-europeus. Houve alguma esperança no começo desta semana, quando o governo anistiou centenas de manifestantes detidos e mostrou disposição em fazer concessões. Mas a violência voltou quando Yanukovych voltou atrás em seus planos de formar um novo governo e se negou a limitar seus amplos poderes.

Os manifestantes se dirigiram ao parlamento e saquearam vários edifícios, apesar de as forças de segurança dispararem contra eles. No dia 18, enquanto a cidade se convertia em um “campo de batalha em chamas”, como definiram moradores à IPS, dirigentes opositores e representantes do governo se reuniam de forma urgente, mas sem chegar a acordo algum. Cada parte se acusa mutuamente de ter causado a violência. A quantidade de mortos continuará aumentando e não se vislumbra um final para esse violento conflito, disseram à IPS alguns dos manifestantes.

Alexander Pyvovarov, médico voluntário em hospitais de campanha instalados perto das principais áreas de protesto em Kiev, disse à IPS que “as coisas vão se agravar. Me preparo para mais semanas de violência. As pessoas estão realmente furiosas, e não há volta para nenhuma das partes. Sei que todos os hospitais do país estão evacuando pacientes que não estão em estão grave para dar lugar aos feridos. Todos sabem o que vem pela frente”. A capital está afundada no medo. “Todos tememos por nossas vidas. Temos medo de que isso se transforme em um massacre”, afirmou o médico.

As mortes desta semana marcaram um ponto de inflexão nos protestos, segundo muitos ucranianos, alguns ainda neutros no conflito. Um morador de Kiev, que pediu para não ser identificado, disse à IPS que observou de perto os protestos e constatou um “violento e estúpido comportamento” tanto das forças de segurança como dos opositores. “Podem morrer 25 ou 125, não importa. O governo cruzou uma linha e todos estão descontentes”, ressaltou.

As autoridades da Europa ocidental e dos Estados Unidos condenaram a violência e pediram ao presidente Yanukovych que acalme a situação. Mas em declarações que pareciam coordenadas, Kiev e Moscou acusaram as potências ocidentais de fomentar o confronto. A Ucrânia mantém fortes laços culturais e econômicos com a Rússia. Um sexto dos mais de 45 milhões de ucranianos é de origem russa e outro um sexto tem o russo como primeira língua.

Aparentemente alarmado pelos protestos e tentando manter Kiev dentro da esfera de influência, Moscou aprovou no final do ano passado um amplo pacote de ajuda financeira e econômica para a Ucrânia. Em janeiro, o governo de Yanukovych adotou uma série de leis, algumas inspiradas na legislação russa, que tem por objetivo único controlar o movimento opositor, segundo a comunidade internacional.

O cerrar de fileiras entre Kiev e Moscou nos últimos dias disparou rumores de que as forças de segurança russas estão ajudando a polícia ucraniana a reprimir os protestos. Informações da imprensa ocidental se referem à possível divisão da Ucrânia entre os que apoiam a aliança com a Rússia e os que preferem uma aproximação com a UE.

A principal base de apoio de Yanukovych se encontra na metade oriental do país, enquanto o ocidente é predominante pró-europeu. Porém, muitos ucranianos consideram que uma divisão do país é improvável, pois as linhas de separação não são tão claras em todos os setores da população.

Desde o começo dos protestos, os líderes da oposição realizaram reuniões com chefes de Estado estrangeiros e representantes da UE com a intenção de obter apoio. Mas o governo ucraniano parece decidido a bloquear qualquer intervenção externa, mesmo se tratando de uma mediação independente para acabar com a crise. O que parece claro para muitos é que esse enfrentamento deve ser resolvido o mais rápido possível.

Vladimir Onichenko, mecânico de 47 anos de Kiev, disse à IPS que “a única forma de resolver a situação é as duas partes se sentarem para dialogar com a mediação de um organismo independente. Isso pode continuar. Dialogar com base na realidade é a única coisa que deterá esta violência e o prejuízo ao país”, destacou. Envolverde/IPS

Pavol Stracansky

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