Segurança afetaria participação social na COP 21

“Clima em perigo”, adverte o cartaz dessa manifestante durante a Marcha do Povo pelo Clima, realizada em Paris no dia 21 de setembro de 2014. Foto: A. D. McKenzie/IPS

“Clima em perigo”, adverte o cartaz dessa manifestante durante a Marcha do Povo pelo Clima, realizada em Paris no dia 21 de setembro de 2014. Foto: A. D. McKenzie/IPS

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 19/11/2015 – A preocupação pela segurança, após os atentados terroristas do dia 13, em Paris, ameaça a participação da sociedade civil na histórica conferência internacional sobre mudança climática que começará no final deste mês na capital francesa. Devido às rígidas medidas de segurança em vigor na cidade, existe uma forte possibilidade de a Marcha Mundial e outras atividades dos grupos da sociedade civil previstas para a ocasião serem limitadas ou mesmo proibidas, segundo várias organizações não governamentais.

A 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), na qual se prevê a adoção de um tratado vinculante e histórico sobre a mudança climática, acontecerá entre o dia 30 deste mês e 11 de dezembro, com a presença de quase uma centena de chefes de Estado e de governo em sua jornada inaugural. Nos últimos anos, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, vem destacando a importância da COP 21 para frear o impacto da mudança climática em todo o mundo, e em particular no Sul em desenvolvimento.

“Esperamos que haja a maior cobertura e a maior participação possível da sociedade civil na COP 21”, afirmou o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq. “Estamos bem conscientes dos problemas de segurança na França neste momento difícil, e confiamos que as considerações de segurança possam ser manejadas de maneira que ainda exista um acesso significativo à conferência”, acrescentou.

Os jornalistas que solicitaram credenciamento também temem pelas possíveis restrições, tanto por razões de espaço como de segurança, segundo fontes em Paris. A sede da conferência pode receber 20 mil pessoas, metade dos governos e a outra metade da ONU, das ONGs e da imprensa.

Jean-François Julliard, diretor do capítulo do Greenpeace na França, falou à IPS. “Estamos à espera de que as autoridades francesas nos digam se consideram que a marcha em Paris e outros momentos de mobilização em torno das negociações climáticas poderão ser realizados de uma maneira segura. Espera-se um grande número de pessoas”, ressaltou.

“Nós, do Greenpeace, queremos que aconteça. Mas, independente do que for decidido, em centenas de povoados e cidades de todo o mundo as pessoas marcharão pelo clima, por Paris e por nossa humanidade compartilhada. É uma visão de cooperação humana que os assassinos tentaram destruir na noite do dia 13. Sem dúvida alguma, devem fracassar”, afirmou Julliard.

Com ou sem marcha, milhares de pessoas na COP 21 em Paris usarão sua imaginação coletiva para projetar suas vozes nas conversações climáticas da ONU, pontuou o representante do Greenpeace. “E quando o fizerem, essas vozes soarão com força nos ouvidos dos políticos dentro desse centro de conferências. Nos ouvirão aqueles em Paris e em outros lugares que tenham o poder de dizer basta à era dos combustíveis fósseis”, ressaltou.

Em entrevista coletiva, no dia 16, foi perguntado ao porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, sobre a possibilidade de mais de mil jornalistas, incluídos correspondentes da ONU, ficarem excluídos da COP 21. “Naturalmente, queremos que os jornalistas estejam presentes. Consultarei nossos colegas da CMNUCC, que estão cuidando do credenciamento para a imprensa, e depois responderei”, afirmou.

Em comunicado divulgado também no dia 16, a organização ActionAid declara que a Coalizão Climat 21 e todas as ONGs que a integram expressam sua solidariedade às vítimas dos atentados do dia 12 em Beirute e às do dia 13 em Paris, bem como às suas famílias. “O mundo que sempre defendemos não é o que vimos nessa noite. O mundo que defendemos é de paz, justiça, luta contra a desigualdade e a mudança climática”.

A Climat 21 prossegue afirmando que “nossa luta pela justiça climática não cessará. Temos o dever de nos colocar de pé e continuar lutando por um planeta justo e habitável para todos. Seguiremos nos mobilizando para construir um mundo sem guerras nem atrocidades, e sem os estragos da crise climática. Continuaremos propondo soluções e alternativas para lutar contra a mudança climática”.

“Acreditamos que a COP 21 não pode acontecer sem a participação e as mobilizações da sociedade civil na França. Portanto, aplicaremos todos os esforços para manter todas as mobilizações previstas atualmente. Em consulta às autoridades, continuaremos trabalhando para garantir a segurança de todos os participantes”, afirma o comunicado. Segundo a Climat 21, é importante recordar que essa mobilização será mundial e que centenas de pessoas estarão reunidas durante as duas semanas de negociações da COP 21, com representantes de todo o mundo presentes em Paris.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a mudança climática já provoca dezenas de milhares de mortes a cada ano, devido a mudanças nos padrões das doenças, a fenômenos meteorológicos extremos como as ondas de calor e inundações, à degradação da qualidade do ar, do fornecimento de alimentos, da água e do saneamento.

A COP 21 “oferece ao mundo uma importante oportunidade não só para alcançar um sólido acordo internacional sobre o clima, mas também para proteger a saúde das gerações atuais e futuras. A OMS considera que o de Paris é um importante tratado de saúde pública, com o potencial de salvar vidas em todo o mundo”, apontou a organização.

A OMS estima que em 2012 morreram sete milhões de pessoas em virtude de enfermidades relacionadas com a contaminação do ar, o que a converte no maior risco de saúde ambiental. Calcula-se que, entre 2030 e 2050, a mudança climática provocará 250 mil mortes adicionais ao ano provocadas por malária, diarreia, estresse pelo calor e desnutrição. As crianças, mulheres e os habitantes pobres dos países de renda mais baixa serão os mais vulneráveis e os mais afetados por essa situação. Envolverde/IPS

Thalif Deen

Thalif Deen, IPS United Nations bureau chief and North America regional director, has been covering the U.N. since the late 1970s. A former deputy news editor of the Sri Lanka Daily News, he was also a senior editorial writer for Hong Kong-based The Standard. He has been runner-up and cited twice for “excellence in U.N. reporting” at the annual awards presentation of the U.N. Correspondents’ Association. A former information officer at the U.N. Secretariat, and a one-time member of the Sri Lanka delegation to the U.N. General Assembly sessions, Thalif is currently editor in chief of the IPS U.N. Terra Viva journal. Since the Earth Summit in Rio de Janeiro in 1992, he has covered virtually every single major U.N. conference on population, human rights, environment, social development, globalisation and the Millennium Development Goals. A former Middle East military editor at Jane’s Information Group in the U.S, he is a Fulbright-Hayes scholar with a master’s degree in journalism from Columbia University, New York.

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